Detran promove evento que debate o envelhecimento e quando é hora de parar de dirigir

Com o envelhecimento da população e o aumento da expectativa (e da qualidade) de vida, a pergunta se torna mais frequente: afinal, quando é hora de parar de dirigir? Ao mesmo tempo em que é preciso avaliar as condições físicas e mentais para dirigir com segurança, estudos recentes apontam importantes declínios sociais, cognitivos e funcionais para aqueles impedidos de dirigir precocemente, aumentando o risco de depressão e mortalidade. Para debater tema tão complexo, o Núcleo Interdisciplinar de Estudos de Trânsito, coordenado pela UFRGS promoveu nesta quinta-feira (23) o VI Nuitran Debates – Envelhecimento e Mobilidade Humana: estamos preparados? 

 O psicólogo especialista em Psicologia do Trânsito Paulo Santos Filho começou o debate mostrando porque a idade não pode ser um critério para responder a essa pergunta. Red Hot Chilly Perpers (60+), Lulu Santos (+70), Rolling Stones (+80), Willy Nelson (+90) continuam compondo e fazendo tours pelo mundo todo, mas será que estão em condições de dirigir? “Essa avaliação passa por uma série de fatores que independem da idade. Hoje temos seis centenários com Carteira Nacional de Hablitação (CNH) válida no Rio Grande do Sul, pressupondo que atendem a todos os requisitos não só para conduzir, mas para conduzir com segurança para si e para os outros”, explica Filho, que coordena a área de exames de aptidão física e mental para fins de habilitação do DetranRS. 

O envelhecimento traz um declínio de habilidades fundamentais para dirigir, mas não só idosos são afetados. Um acidente ou uma doença pode afastar temporária ou permanentemente uma pessoa jovem. A hora de qualquer pessoa parar é quando não houver mais aptidão física e mental para a condução segura. A parte física envolve aptidão motora e de mobilidade, sensorial auditiva e visual, capacidade cardiorrespiratória e neurológica, ausência de doenças que debilitem o organismo. Em termos de aptidão mental, grosso modo, deve-se avaliar a concentração/atenção, memória, avaliação/juízo crítico, orientação e equilíbrio emocional. 

Avaliação criteriosa 

Mas a hora de parar de dirigir é um momento bastante delicado, já que a direção veicular tem uma relevância importante para o idoso, que passou muitos anos dirigindo, afetando seus hábitos de deslocamento com veículo individual. “Perder a carteira não é só perder um papel, é perder uma condição, perder, muitas vezes, independência, autonomia. Essa autonomia permite um vínculo social mais frequente com a família, amigos, comunidade. A CNH não deixa de ser um símbolo de potência, funcionalidade na nossa sociedade. Representa estar funcional, ativo, ajuda com a autoestima, com a manutenção de atividade habituais, além de exercitar o cérebro (quando se dirige acaba-se exercitando funções cognitivas e motoras direção não deixa de ser um exercício principalmente mental)”, analisa o psicólogo. 

Para ressaltar a importância da avaliação do momento crucial, a Associação Brasileira de Medicina do Tráfego lançou, em março desse ano, uma diretriz direcionada aos médicos que fazem a avaliação para a CNH. A normativa aponta que quando se retira a CNH precocemente de um idoso, os prejuízos podem ser imensos: estudos evidenciam importantes declínios sociais, cognitivos e funcionais para motoristas em idade avançada que pararam de conduzir veículos, com risco aumentado de depressão, admissão em casas de repouso e mortalidade (chegando de quatro a seis vezes nesse último caso). “Esse marco sinaliza que o fim está mais próximo, tem uma relação com a finitude”, explica Paulo. “Por isso, a decisão de parar de dirigir deve ser feita com muito critério, pois se for feita no momento errado, pode trazer grandes prejuízos”. 

Embora a decisão final seja do médico perito, a própria pessoa e seus familiares também podem observar as habilidades para dirigir do idoso. É possível adotar estratégias para reduzir riscos, como dirigir mais devagar, dirigir acompanhado, não conduzir a noite ou em vias de trânsito rápido, fazer trajetos curtos e conhecidos, etc. 

Acontece também da família observar uma mudança na condição de saúde do idoso ao longo da validade da CNH, ou a omissão de informações ao médico perito que façam com que o idoso esteja com uma CNH válida, mas com a possibilidade de não apresentar aptidão física/mental para dirigir. Nesse caso, a família pode  encaminhar uma comunicação ao DetranRS, de suspeita de incapacidade física ou mental para dirigir, embasada com um laudo médico onde constem informações clínicas que indiquem possíveis incompatibilidades com a direção veicular segura. Com base nestas informações, a autarquia pode instaurar uma medida administrativa para recolhimento da CNH e reavaliação do condutor. Nessa reavaliação o médico perito terá conhecimento do conteúdo do laudo do médico e poderá fazer uma investigação mais aprofundada do caso. Isso pode ser feito através de um Centro de Formação de Condutores ou dos canais de atendimento da autarquia disponíveis no site www.detran.rs.gov.br

Transformação das cidades 

No segundo momento do debate, a agente de fiscalização de trânsito da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC)  Luciane Farias Pereira falou sobre a mobilidade de pessoas idosas enquanto pedestres, ciclistas e usuários de transporte coletivo. Luciane coordena o programa  Pedestre Idoso da Escola Pública de Trânsito da EPTC, em Porto Alegre, e apresentou os diferentes desafios enfrentados nesse outro modelo de mobilidade dos idosos. 

Mas, os debates levantaram que um aspecto se entrelaça com o outro na medida que, se nossa cultura privilegiar o automóvel e a mobilidade individual e as nossas cidades não promoverem formas de deslocamento que incluam os idosos, o impacto de parar de dirigir será maior. Ou seja, se o transporte público, o caminhar e o deslocar-se pela cidade for mais confortável para os idosos, o impacto de perder a CNH não será tão importante. Há que se pensar em soluções coletivas também para esse problema, para tornar o momento menos penoso para essas pessoas que ainda tem muito o que viver e contribuir em sociedade. 

O debate completo pode ser acessado no canal do DetranRS no YouTube, ou através desse link. 

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