Episódios de chuva extrema aumentarão no Brasil nas próximas semanas, prevê Metsul

Até poucos dias com noticiário de seca, episódios de chuva localmente intensa a extrema com muito altos volumes em curto período, o que gera enxurradas, devem se tornar mais frequentes no Brasil durante as próxima semanas, projeta a MetSul Meteorologia com base na análise de modelos de computador de curto e médio prazos.

Ocorrências de chuva excessiva isolada acompanhando temporais deixaram um saldo trágico na última semana em São Paulo com várias vítimas de tempestades de chuva e de vento excessivamente fortes em curtos intervalos.

Em Campinas, homem de 22 anos morreu após ser arrastado por enxurrada durante a tempestade da noite de quinta-feira. Já no município de Jundiaí, o corpo de uma mulher de 25 anos foi encontrado dentro de um carro em um rio. Ela havia desaparecido na noite de quinta-feira durante a forte tempestade.

Ontem, em Minas Gerais, oito pessoas, incluindo duas crianças, viveram momentos de terror ao serem arrastadas por enxurradas durante o temporal que atingiu a cidade de Uberaba, no Triângulo Mineiro. As vítimas mobilizaram o Corpo de Bombeiros ao ficarem ilhadas ou quase submersas dentro de veículos inundados pela água.

Essas ocorrências acompanham a mudança que ocorre no padrão climático no Brasil com o fim da temporada seca do outono e do inverno e o retorno da chuva frequente que tem início na primavera nos estados do Centro-Oeste e do Sudeste.

À medida que se aproxima o verão, estas ocorrências de chuva localmente intensa e extrema durante temporais passageiros tendem a ser tornar cada vez mais comuns com elevação de córregos e arroios, alagamentos e inundações repentinas.

O período com maior ocorrência de chuva na climatologia anual, portanto com maior probabilidade de temporais que podem despejar grande quantidade de chuva em curtos intervalos, acompanha os meses do verão, logo entre dezembro e fevereiro, mas já em novembro se observa um aumento maior destes eventos.

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Por que ocorrem estes episódios de chuva extrema?

Nos meses mais frios, entre abril e meados de outubro, a chuva costuma ocorrer por efeito de sistemas meteorológicos de grande escala, como frentes frias, frentes quentes e centros de baixa pressão atmosférica, por exemplo. Estes sistemas atuam mais no Sul do Brasil, ao passo que no Centro-Oeste e no Sudeste, com a temporada seca, costuma chover muito pouco.

Já durante os meses mais quentes do ano, notadamente entre novembro e março, não é preciso nenhum grande sistema meteorológico atuando para que chova, embora eles sigam ocorrendo, apenas que com menor frequência. Basta o calor com umidade para que se formem nuvens que causam chuva isolada.

Essas ocorrências às vezes podem trazer volumes excessivamente altos em curto período com muitos alagamentos e inundações repentinas. Há vários precedentes de chover em meia hora ou uma hora o que é comum chover na média da metade de um mês ou até um mês todo. Em dias muito quentes ou tórridos, com o ar tropical, cresce o risco de tempestades localizadas intensas com vendaval e chuva forte.

É possível prever pancadas e temporais isolados numa determinada região, mas estabelecer exatamente onde ocorrerão com antecedência é muito difícil. São inúmeros os casos de apenas parte de uma cidade ser afetada por estes eventos de chuva excessiva.

Quais as áreas de maior risco de chuva extrema isolada e enxurradas nas próximas semanas?

Estes episódios de chuva localmente intensa a mesmo excessiva com altos acumulados em curto período e enxurradas, como destacado pela MetSul Meteorologia, devem se tornar mais frequentes nas próximas semanas. Mas onde?

De acordo com a análise da MetSul, muitas áreas do Centro-Oeste e do Sudeste devem ter chuva acima a muito acima da média nos próximos 30 a 45 dias em grande contraste com a enorme escassez de precipitação observadas durante os meses secos do outono e do inverno.

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O que vai acontecer? Espera-se uma redução da chuva mais ao Sul do Brasil, o que fará com que o canal de umidade da Amazônia atua mais na porção central do Brasil, logo em estados do Centro-Oeste e do Sudeste.

Várias cidades do Oeste (Triângulo Mineiro), Centro e o Sul de Minas Gerais, aliás, já registram um outubro de chuva acima a muito acima da média, em alguns casos o dobro ou mais da climatologia histórica de precipitação mensal. No Centro-Oeste, Goiânia somou neste mês até às 9h de hoje (27) um total de 310,9 mm, valor muito acima da média histórica de precipitação de outubro de 144,1 mm.

Na análise da MetSul, justamente Goiás e Minas Gerais são os estados de maior risco de episódios de chuva isoladamente excessivas com enxurradas nas próximas semanas. Pontos isolados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Espírito Santo, Rio de Janeiro e de São Paulo, notadamente do interior paulista, da mesma forma têm alto risco destes eventos de chuva muito volumosa localizada de curta duração nas próximas semanas.

Mudanças climáticas agravam risco de chuva excessiva isolada

Especialistas em clima alertam que, sem ação urgente, as mudanças climáticas continuarão a aumentar a intensidade das chuvas extremas, o que pode levar a enchentes severas. Uma equipe de pesquisa internacional concluiu que o aumento nas chuvas extremas e nas inundações associadas devem continuar à medida que as temperaturas globais continuam subindo.

Cientistas da Universidade de Newcastle, da Universidade de East Anglia (UEA), do Centro Tyndall para Pesquisa em Mudanças Climáticas e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), do Brasil, analisaram mais de 170 artigos científicos revisados por pares.

Eles descobriram que, em pequenas bacias hidrográficas e em áreas urbanas de muitas partes do mundo, as chuvas extremas aumentaram a chance e a magnitude das inundações, impactando severamente as populações locais e a infraestrutura.

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Em bacias maiores e rurais, as enchentes dependem de muitos fatores diferentes, e as inundações estão menos diretamente relacionadas a eventos de chuva extrema. A análise deles também sugere que aumentos nas taxas diárias de chuvas extremas foram observados globalmente e em escalas continentais ao longo do século 20 e início do século 21, e que o aquecimento global está impulsionando aumentos em chuvas extremas de curta duração em algumas regiões.

O estudo mostra que a atividade humana tem impacto no aumento das chuvas diárias extremas, aumentando a probabilidade de alguns eventos significativos. As descobertas indicam que o risco de inundações repentinas em áreas urbanas provavelmente aumentou nas últimas décadas, devido à expansão de superfícies impermeáveis, aumentando o escoamento e intensificando as chuvas extremas, e que esses aumentos devem continuar.

O líder do estudo, Dr. Stephen Blenkinsop, da Escola de Engenharia da Universidade de Newcastle, afirmou que “o aquecimento global significa que a atmosfera pode reter mais umidade e também pode mudar o comportamento das tempestades. Chuvas extremas mais intensas, junto com mudanças em outros fatores, podem aumentar a frequência e a gravidade das inundações em muitas regiões”.

“Mesmo que medidas sejam tomadas para limitar o aquecimento global, será necessário aprimorar nosso entendimento sobre como as chuvas extremas e as inundações mudarão no futuro, a fim de adaptar nossas cidades e outras comunidades a eventos mais frequentes ou extremos”, observou Blenkinsop.

Adam Smith, da Escola de Ciências Ambientais da Universidade de East Anglia, acrescentou que “essa é uma área ativa de pesquisa, e nossa revisão destaca que a ciência está se tornando cada vez mais clara sobre como as mudanças climáticas influenciam as chuvas extremas e como isso se combina com outros fatores para aumentar a chance de inundações em muitos lugares”.

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